Adriana Partimpim põe ‘O quarto’ no palco de festival carioca em show mais vocacionado para espaços menores

Adriana Partimpím alterna músicas dos quatro álbuns no roteiro oscilante do show 'O quarto no palco'
Diego Padilha / Divulgação / Festival Doce Maravilha
♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: O quarto no palco
Artista: Adriana Partimpim
Data e local: 27 de setembro de 2025 no festival Doce Maravilha no Jockey Clube Brasileiro (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♬ “Vamos cantar juntos?”, propôs Adriana Partimpim no palco do festival Doce Maravilha, antes de dar voz à canção Gatinha manhosa, dengosa composição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos (1941 – 2022) lançada em 1965 pelo grupo Renato e seus Blue Caps, tornada hit por Erasmo a partir de gravação de 1966 e reavivada por Partimpim em 2009 no segundo disco da personagem infantil criada e encarnada por Adriana Calcanhotto em trabalho paralelo.
O público adulto do Doce Maravilha atendeu o pedido e fez coro com Partimpim na canção. Décimo número do roteiro seguido por Adriana na estreia do show O quarto no palco, Gatinha manhosa promoveu a primeira grande e real interação do público com o espetáculo que chegou à cena na tarde de ontem, 27 de setembro, dentro da programação do segundo dia do festival, em um dos dois palcos armados no Jockey Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro (RJ).
Partimpim aterrissou no palco vestida de astronauta e, com a mesma indumentária espacial, partiu uma hora depois após ter cantado 19 músicas dos quatro álbuns no roteiro aberto com Lição de baião (Jadir de Castro e Daniel Marechal, 1961), música que há 21 anos também abriu o primeiro álbum de Partimpim.
No todo, o show resultou bom, sobretudo por conta da direção musical e dos arranjos do trombonista Marlon Sette. O pulso dos metais deu outro sopro de vida a músicas como o samba-reggae Alexandre (Caetano Veloso, 1997) – outra lembrança do álbum Partimpim dois (2009) – e como Atlântida (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981), esta imersa no álbum O quarto (2024) nas águas do reggae pela trama dos tambores do percussionista Luizinho do Jêje.
Jêje é um dos virtuoses da banda do show O quarto no palco, integrada por Davi Moraes (guitarra), Thomas Harres (bateria), Antonio Dal Bó (teclados e sintetizadores), João Moreira (baixo), Arimatéa (trompete) e Jorge Continentino (saxofone, clarinete e flautas), além do já mencionado Marlon Sette no trombone.
Contudo, a estreia do show no festival Doce Maravilha evidenciou duas questões. A primeira é que o show O quarto no palco pareceu mais vocacionado para espaços menores, como um teatro, onde o público (talvez formado por mais crianças) pudesse fruir a contento as imagens lúdicas e coloridas projetadas no cenário assinado por Daniela Thomas. A segunda questão diz respeito ao repertório.
O roteiro fez com que a temperatura do show oscilasse muito, com alguns números frios. Pela apatia do público em alguns momentos, o show confirmou o que a discografia de Partimpim já mostrara. Em bom português, músicas como o maracatu Boitatá (Mano Wladimir, Marisa Monte e Arnaldo Antunes, 2024), Canção da falsa tartaruga (Cid Campos e Augusto de Campos a partir de Lewis Carroll, 2004) e Ser de Sagitário (Péricles Cavalcanti, 2004) não empolgaram a plateia do Doce maravilha.
É preciso uma melodia sedutora – como a de Lindo lago do amor (Gonzaguinha, 1984), lembrança do álbum Partimpim tlês (2012) que teve total adesão do público do Doce maravilha – para driblar a tendência à dispersão da plateia heterogênea de um festival. Até mesmo Tô bem (Bernardo Pasquali, Bernardo Derviche Hey, Gabriel Dunajski Mendes, Gustavo Karam e Rafael Dunajski Mendes 2024), hit da banda Jovem Dionísio, perdeu no palco de Quarto parte da graça do disco.
Nesse sentido, o show O quarto no palco engrenou mais na segunda metade com o canto de músicas aliciantes como Oito anos (Paula Toller, 1998) e o baioque O bode e a cabra (1964), abusada versão em português do rock dos Beatles I want to hold your hand (John Lennon e Paul McCartney, 1963), escrita por Renato Barros (1943 – 2020) e lançada em disco pelo grupo paulista The Rebels.
Os adereços do figurino de Partimpim foram show à parte, caso do chapéu de borboletas que adornou a artista no canto de As borboletas (Cid Campos e Vinicius de Moraes, 2009).
Justiça seja feita: no fim do show, o público se animou. Bastou Partimpim soltar “O Rio de Janeiro continua lindo” para a plateia emendar com o refrão do samba Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969). No bis, o canto do minimalista tema Bim bom (João Gilberto, 1958) reforçou a impressão que, em cena, O quarto teria mais graça e surtiria mais efeito no palco de um teatro.
Os adereços dos figurinos de Adriana Partimpim são show à parte em 'O quarto no palco'
Diego Padilha / Divulgação / Festival Doce Maravilha
♫ Eis o roteiro seguido em 27 de setembro por Adriana Partimpim na estreia nacional do show O quarto no palco no festival Doce Maravilha, no Jockey Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro (RJ):
1. Lição de baião (Jadir de Castro e Daniel Marechal, 1961)
2. O meu quarto (Adriana Calcanhotto, 2004)
3. Saiba (Arnaldo Antunes, 2004)
4. Canção da falsa tartaruga (Cid Campos e Augusto de Campos a partir de Lewis Carroll, 2004)
5. Atlântida (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981)
6. Malala (O teu nome é música) (Adriana Calcanhotto, 2018)
7. Alexandre (Caetano Veloso, 1997)
8. As borboletas (Cid Campos e Vinicius de Moraes, 2009)
9. Tô bem (Bernardo Pasquali, Bernardo Derviche Hey, Gabriel Dunajski Mendes, Gustavo Karam e Rafael Dunajski Mendes 2024)
10. Gatinha manhosa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965)
11. Também vocês (Adriana Calcanhotto e João Callado, 2012)
12. Ser de Sagitário (Péricles Cavalcanti, 2004)
13. Boitatá (Mano Wladimir, Marisa Monte e Arnaldo Antunes, 2024)
14. Ciranda da bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983)
15. O bode e a cabra (I want to hold your hand, John Lennon e Paul McCartney, 1963, em versão em português de Renato Barros, 1964)
16. Lindo lago do amor (Gonzaguinha, 1984)
17. Oito anos (Paula Toller, 1998)
♫ Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969) – citação do verso “O Rio de Janeiro continua lindo” e canto do refrão pela plateia
18. Fico assim sem você (Cacá Morais e Abdullah, 2002)
Bis:
19. Bim bom (João Gilberto, 1958)
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